Poesia - Santiago de Novais

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano II Número 15 - Março 2010

O Bloco De Quarta De Cinzas

ooo êeee! vai sair o bloco! olofom de bofe branco! axé!

ôOO meu senhor! Que maracatú!

E precisa Jesus morrer na cruz? E precisa madama gostar de samba?
Se o Senhor perdeu tempo. Foi preto que ganhou:
transformou esta terra em terra de preto
de batuque de pau grande, de branco virando preto!

primeiro: tudo era de preto e perfume de colônia,
brazil não entendeu:
escurinho, carvão, tiziu, urubu, nêgo, kilombo, meia noite,
e do alto do morro até o embaixo do morro só tem muque!

nem oxum perdoa! Tem loirinha falando ti amu pra preto!

ah, que axé! se madama não gosta de samba
é como se xapólim fosse sempre o presidente do brasill
e Zumbi demorasse pregado na cruz!!

diz ae negritude:
se madama vem no terreiro o que é prá sentir?
neca odara? ocó dun dun? ocó erê? nego zalene?
ou preto? o preto não é o tambor, ou é? u tambor? gonguê?
Eu sinto tudo e sinto muito...porque tudo sinto, tudo sinos.

terça gorda tem gringa no samba, tem madonna na sapucaí,
todo mundo acha chique, preta não sai, preta aparece, os preto zanzando
mas quando encontra os nigerianos na São João
morre de medo de ser traficante, zuado! mas no fim o preto vence!

Eu zumbi branco traficante de manhãs de sandálias na mão tão bonitas manhãs.
Disse bravo: Nem só de preto vive o preto e nem o senhor! E esta
maozinha preta pedindo bala pro folião soluçando bicarbonato? Eu.

êÊêÊê lá râi (pois é prá senti tudo – não sou madama) (sou preta)

Santiago de Novais, nasceu em Minas, Campos Gerais. É professor de idiomas, tradutor, educador e poeta.

No comments:

Post a Comment