Crônica - Leonardo André Elwing Goldberg

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano II Número 15 - Março 2010

Carlos Meinardi, Filhos da terra, acrílica s/ tela c/ limalha de ferro

Filhos da Terra

O que eu consigo ver são botas. Bem lustradas. Largas passadas são dadas ao destino que não conheço.

O tecido dá forma às pernas musculosas, de homens bem alimentados. De alimento, só conheço banana. Algo que lapidou nosso apelido: “República de Bananas”. Talvez por termos tantas bananas, talvez por acreditarem que parecemos macacos. Macacos ameaçadores.

A vontade é de gritar: L'Ouverture! Mas agora, quem oprime, quem zomba, também é quem alimenta. Estamos totalmente dependentes, de novo.

Acham que somos assassinos.

Mas não fomos nós que começamos a matança. Não colocamos Papa Doc nem o seu pequeno monstrinho no poder e o sangue ainda jorra por todos os lados. Sangue expesso! Sangue negro!

Os mesmos que nos alimentam hoje, foram nossos carrascos. Moralmente, o que fazem por nós é o minimo.

Nossos poetas cantaram, pediram pra voltar. Laleau não escrevia com a caneta, escrevia com lágrimas. Gostaríamos de voltar para nossa mãe.

Mas agora tudo foi por água a baixo. As poesias, os desejos, a reconstrução. O que resta são milhares de largas passadas, das botas, lustradas. Inglêses, portuguêses, alemães, americanos. O francês que ecoa em tom choroso é o mesmo escutado outrora na Argélia.

Adeus, meu Deus. Meu deus.

Leonardo André Elwing Goldberg é Acadêmico de Psicologia.

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